Frio na barriga são palavras que não querem ser ditas
julho 14, 2016
No meio da conversa surgiu um silêncio meio embaraçador, e não foi porque eu não tinha nada a dizer. Minha boca emperrou e quando tentei dizer algo as palavras se atropelaram e tudo ficou mais desalinhado ainda.
E nas vezes em que as palavras saíram dos trilhos a coragem para falar acabou se perdendo no emaranhado que o meu cérebro se tornou por alguns instantes. Não era para ter sido tão difícil, eu só ia dizer que você é bonito.
Às vezes o cérebro da gente também não colabora, nem mesmo quando ensaiamos mentalmente por horas o que íamos dizer. Eu havia escolhido palavras tão simples que até meu sobrinho as teria soletrado em seu primeiro ano de vida. Até deixei a frase mais curta, já era quase um poema pílula, e mesmo assim nada. NADA. Não era para ter sido tão difícil, eu só queria elogiar seu cabelo.
Outras vezes nem mesmo prender e soltar a respiração de cinco em cinco segundos ajudou, procurei calma até no útero da alma e descobri que, naquele momento, ele era estéril.
Acho até que o frio na barriga que dá quando vamos dizer essas coisas são palavras que ficam presas no estômago ao tentarem fugir para que não sejam ditas.
Talvez o coração não estar perto do nosso aparelho fonador seja um indício de que, muitas vezes, não dá certo mesmo unir os dois. Mas talvez também seja medo do que você vai pensar das besteiras que tenho a dizer. Sei lá, já me atropelei outras vezes com outras pessoas dizendo que elas eram bonitas, que tinham o cabelo lindo e que eu meio que mais do que gostava delas.
Na verdade eu não pretendia te contar que já tentei te dizer essa ultima, mas, bem, já que já está escrito, hum, não preciso mais arriscar ficar com a boca estacionada ou enfrentar mais um silêncio embaraçoso ao tentar te dizer isso mais uma vez.
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