Atenda, pode não ser a operadora.

julho 06, 2016


Sempre dá aquele frio na barriga quando fazemos algo arriscado. Dá pela primeira vez na montanha russa, pela espera do resultado do ENEM ou então pelo medo do primeiro beijo. 
Algumas vezes a barriga até parece ter mais borboletas dentro dela do que todas as já vistas por nós a vida toda, mas, mesmo assim, nada se compara ao frio que dá na coitada quando descobrimos que estamos nos envolvendo novamente depois de um relacionamento ruim.
Você conhece um serumaninho que a princípio seria só mais um entrando na sua casa e, de repente, ele já foi lá mais vezes do que os dedos podem contar. E o pior - ou melhor - é que essas pessoas são tão inesperadas quanto as ligações de telemarketing - acontecem nos lugares mais inusitados e nas horas menos esperadas.
Só que assim como você atende as ligações de números desconhecidos pela chance de não ser só mais um vendedor chato, também acaba se deixando envolver pela chance de não ser só mais alguém querendo bagunçar sua vida novamente.
E quando nós nos envolvemos de novo ficamos como cachorro maltratado quando vai receber carinho e comida: rosnamos um pouco, latimos e até ameaçamos morder, até que uma hora baixamos a guarda e nos permitimos redescobrir o quanto é bom ter um pouco de afeto, para variar.
A gente nunca sabe quanto tempo vai levar para a sarna sumir, para as pulgas acabarem e o trauma do maltrato antigo desaparecer, mas como todo bom cão estamos, mesmo que bem lá no fundo, desesperados por um cafuné, cócegas na barriga e o aconchego de um colo reconfortantemente novo.
E a gente tem de se abrir porque - puta-que-pariu - uma hora essa coisa toda de amor tem de dar certo. Claro que ficamos relutantes, mas quando uma oportunidade aparece precisamos nos lançar à sorte, sim. E isto é mais do que só mais uma visão otimista, isto é nos dar uma chance de recomeçar e colocar ordem na casa, tirar o pó dos móveis e as teias de aranha do teto. É sempre hora de abrir as janelas para que a luz invada a casa e as portas para que novos ares entrem.
E aí felicidade que chega sem avisar talvez seja tudo isso: uma borboleta presa dentro do estômago, um cãozinho ganhando um novo dono ou até uma ligação com um número desconhecido, mas precisamos agarrá-la antes que desapareça, desista de nos resgatar ou caia e nunca mais a recebamos.
Se envolver é como andar no quarto escuro de madrugada, às vezes batemos o dedinho do pé em algum canto, mas, às vezes, é só isso que nos acalma para que o sono venha. Então se não há como sabermos quando é que vamos acabar batendo aquela unha feia e pequena num canto por aí que ao menos torçamos para que quem chegar não tenha pressa de desligar a chamada, que nos queira sem pigarrear e consiga manter as borboletas sempre presas em nossas barrigas.

Hey, acho que você vai gostar disso aqui também:

0 comentários

Fotinha :)


Vídeo Sugerido