Das coisas que ele esquece em casa

agosto 16, 2016

Era para ser só mais uma despedida comum, não fosse pelo que senti quando voltei para casa. Ainda repassava na cabeça alguns bons momentos do encontro que tinha acabado de ter quando vi a camisa dele em cima da cama.
Ora, num dia aleatório eu a teria colocado num canto qualquer e o avisaria em seguida que a esqueceu, mas desta vez a camisa estava estranha. Não que aquele pedaço de pano estivesse sujo ou rasgado, nada disso, só estava estranho.
Eu nunca tinha gostado tanto de uma camisa antes. Não era nem pela beleza dela, acrescento, apesar de ser realmente bonita - até pensei por um momento em seu bom gosto por roupas. Não havia nada que em um dia comum chamasse minha atenção para ela. Coçar a cabeça não me ajudou a descobrir porque o pano me chamava tanta atenção.
Olhar para o teto com ela em mãos também não ajudou em nada, assim como colocar a mão no queixo, coçar a barba e fazer auto-cafunés. Pronto, lá estava eu com a janta para fazer, com a matéria para por em dia e aquele emaranhado de algodão preso nas mãos.
De repente, estava na cara. Soltei a camisa como quem solta da mão dos pais quando está próximo da escola. Ué. Eu estava apaixonado. Nunca antes uma camisa fizera tanta bagunça em mim. O susto que a me fez soltar talvez seja resultado de vários sentimentos, e não só o de surpresa.
Diga-se de passagem e inevitavelmente em clichês, uma mistura de traumas, medos e decepções se misturavam aos sentimentos que ateavam fogo a mim naquele momento. Deu medo, deu, sim. E o medo, assim como a alegria, também nos assusta.
E se não fosse recíproco? E se fosse cedo demais? E se nunca fosse retribuído? E se... cale a boca, tive de me dizer. A paixão nos deixa inquietos, assustados, na miúda. Faz a gente ver em camisas comuns a roda do enleio.
E foi assim que eu descobri que havia me apaixonado por ele, num momento qualquer fiquei tão feliz quanto não ficava em tempos - apesar dos medos que acompanharam tal felicidade - e não sabia o por quê. E talvez seja essa a forma do amor nos fazer ver o quanto alguém já significa muito para nós: um dia ele faz alguém esquecer de propósito uma camisa na sua cama e te fazer pifar por causa dela.
Agora eu gosto quando ele esquece as coisas aqui em casa. Não por mal, imagina. Gosto porque essas coisas pequenas - assim como as grandes - me fazem lembrar que ele esteve ali e, principalmente, que sua visita foi agradável.
Me lembram também que ele sempre vai voltar para buscá-las e inevitavelmente, no momento em que ele estiver ali, vou estar tão feliz que nada mais vai importar. Nessas horas matéria alguma precisa ser posta em dia, e dane-se a fome também.
Mas mais do que isso, gosto que ele vá lá porque saber que estou amando alguém que me ama de volta me deixa de bem com os astros, me faz sentir bonitamente completo por dentro e por fora e não deixa eu me achar um idiota por gostar tanto das coisas bobas que ele esquece aqui em casa.

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Fotinha :)


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