Olhei pela janela e a fumaça que os aviões deixaram para trás me lembraram você
outubro 09, 2016
Era segunda e, como de costume, eu não tinha mais nada para fazer além do trabalho. Era um dia como todos os outros, na verdade. Levantei, tirei a remela dos olhos e fiz a mesma longa pausa de todos os dias em que fico olhando para o teto pensando em tudo e ao mesmo tempo não pensando em nada. Saí da linha do espaço-tempo.
Não fosse o fato de eu ter de ir trabalhar, ficaria mais tempo nesse universo paralelo, confesso. Escovava os dentes enquanto os primeiros pensamentos do dia apareciam. Entre os lembretes de afazeres diários que me vinham, lá estava você, e isso me animou.
Fazia um bom tempo que minha vida se resumia aos estresses das obrigações. Eu só pensava nisso e, durante esse tempo, sem que eu pudesse me dar conta, minha vida passava em tons de cinza. Em branco e preto, preto e branco, black and white, cabelo da Max, como preferir.
Aí você se tornou um dos meus primeiros pensamentos do dia e, sem que eu me desse conta, minha vida já não era mais sem cor. Agora, quando abro a janela, vejo o céu e, diferente de antes, sinto o seu azul. Vê-lo não me bastava. Eu tenho cores agora.
Algumas vezes até me atraso um pouco para continuar olhando o céu pela janela. E um dia desses, quando me atrasava para apreciá-lo, vi um daqueles aviões que passam e deixam aquela fumaça no céu e lembrei de você.
Era uma paráfrase do nosso amor pintado no céu. Veja, o avião tão rápido quanto a velocidade que o tempo passa quando estamos juntos e a fumaça como a saudade que sinto de você.
De primeira, quando você parte, a saudade, assim como a fumaça no céu, se mantem firme e eu aguento as pontas. Mais tarde, por causa do vento e da solidão que cerca a gente, ela inevitavelmente se desfaz e as pontas, as benditas pontas, ficam difíceis de segurar.
Talvez um dia eu deixe de apreciar o avião pela janela e esteja dentro dele com você, e aí os papéis finalmente vão se inverter: vou poder olhar para a janela e ver a fumaça lá trás, e aí, então, vou saber que agora é ela que me vê partir.
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